PLANO DE VIDA
- Cirtencienses Leigos
- 22 de ago.
- 9 min de leitura
para Cistercienses Leigos da Abadia de Gethsemani
A contemplação é a mais alta expressão da vida intelectual e espiritual do homem. É essa própria vida, completamente desperta, completamente ativa, completamente consciente de que está viva. É admiração espiritual. É reverência espontânea diante da sacralidade da vida, do ser. É gratidão pela vida, pela consciência e pelo ser. É uma realização vívida do fato de que a vida e o ser em nós procedem de uma fonte invisível, transcendente e infinitamente abundante. A contemplação é, acima de tudo, consciência da realidade dessa Fonte.
Thomas Merton

PROPÓSITO DO PLANO DE VIDA
O valor último de nossa existência humana e o objetivo da vida cristã é a união com Deus. Esta realidade foi revelada à humanidade na pessoa de Jesus, o Cristo. Os Evangelhos articulam esta realidade. O Espírito de Deus ilumina nossa compreensão desta realidade e encoraja nossa resposta na fé.
Nossa resposta de fé é expressa através da oração e de um compromisso com o crescimento espiritual. Nossa jornada de fé nos levará a uma descoberta de nossas profundezas interiores onde o espírito de Deus também habita. Somos desafiados a expandir nossa consciência da presença única de Deus em comunidade com outros e em toda a criação. Em outras palavras, é através do chamado de Deus que se é convidado a aceitar o dom da contemplação na qual uma dimensão mais profunda da presença de Deus é revelada.
O propósito do Plano de Vida, portanto, é servir como um guia para Cistercienses Leigos em seus esforços para desenvolver, em sua vida secular, uma espiritualidade contemplativa de acordo com a tradição cisterciense. O Plano de Vida reflete elementos que são características do regime monástico cisterciense de oração, trabalho e estudo. Há uma ênfase em uma modificação de estilo de vida que é similar à conversão monástica de costumes. Estes elementos podem ser adaptados e são compatíveis com as demandas de um estilo de vida secular/leigo. É óbvio que disciplina pessoal de tempo e atividade é requerida.
Também se espera que o Plano de Vida ajude os Cistercienses Leigos a se tornarem mais centrados e quietos conforme progridem em sua jornada espiritual. Espera-se que os elementos do Plano de Vida possam servir como base de diálogo contínuo entre Cistercienses Leigos e membros da comunidade monástica da Abadia de Gethsemani.
ESPIRITUALIDADE CISTERCIENSE
Desde o século XIII, fundadores de ordens religiosas desenvolveram uma variedade de espiritualidades, como Franciscana, Beneditina, Carmelita, Dominicana ou Inaciana (Jesuíta), com o propósito de aprimorar a formação na vida cristã. Pessoas leigas, por sua vez, adaptaram elementos desses carismas espirituais à sua vida ordinária como cristãos. É nessa mesma linha que as características da espiritualidade monástica cisterciense recentemente atraíram leigos a explorar a integração de alguns elementos da espiritualidade cisterciense com sua própria formação cristã.
A base da formação na tradição cisterciense/beneditina é a Regra de São Bento. Embora a Regra tenha sido escrita no século VI como uma regra de vida para monges cristãos na Igreja Ocidental, leigos encontraram porções da Regra aplicáveis a eles em seu estilo de vida secular.
Para pessoas que escolhem adotar uma espiritualidade contemplativa de acordo com a tradição cisterciense, sugere-se que se familiarizem com a Regra de São Bento, obtenham um conhecimento geral da história cisterciense e desenvolvam uma compreensão da espiritualidade cisterciense. A seguinte lista de material de leitura é recomendada para estudo e reflexão inicial:
Leituras Recomendadas:
Regra de São Bento
Spirituality for Everyday Living: An Adaptation of the Rule of St. Benedict. Brian Taylor (Liturgical Press, 1992)
The Cistercian Way. Andre Louf (Cistercian Publications, 1989)
Seeking God: The Way of St. Benedict. Esther de Waal (The Liturgical Press, 1984)
Wisdom Distilled from the Daily: Living the Rule of St. Benedict Today. Joan Chittister, OSB (Harper Collins Publishers, 1991)
A School of Love: The Cistercian Way to Holiness. M. Basil Pennington, O.C.S.O. (Morehouse Publishing, 2000)
The Way of Simplicity: The Cistercian Tradition. Esther de Waal (Orbis Books, 1998)
The Waters of Siloe. Thomas Merton (Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, 1949)
ELEMENTOS DO PLANO DE VIDA
O Plano de Vida para Cistercienses Leigos é paralelo a elementos que são característicos da vida monástica cisterciense. No entanto, é compreendido que pessoas que seguem este guia estão imersas nos cuidados e preocupações da vida no mundo secular. Ao viver suas vidas de acordo com essas diretrizes, elas dariam um testemunho contemplativo onde residem, trabalham, oram e compartilham comunidade.
Adotar o Plano de Vida demonstra um compromisso com oração diária, lectio, estudo e tempo para silêncio. Também sugere que uma pessoa desenvolva uma disposição que seja conducente à espiritualidade contemplativa, bem como se envolva em alguma forma de serviço ou ministério em sua comunidade. O Plano sugere o compromisso mínimo que uma pessoa faria. Os quatro elementos principais do Plano de Vida são:
ORAÇÃO
A oração é essencial para o crescimento espiritual. A oração deve ser valorizada como uma expressão de nosso relacionamento com Deus, um relacionamento que é nutrido por uma consciência transformada da presença de Deus em nossas profundezas interiores. Nossa oração contemplativa privada e participação na adoração litúrgica devem ser mutuamente apoiadoras. Deve-se incluir os seguintes tipos de oração em suas experiências de oração diária/semanal:
Liturgia Eucarística – Deve-se preparar para e entrar mais atentamente na celebração da liturgia eucarística dominical. É recomendado prever e estudar as leituras das Escrituras para a liturgia dominical. (Nota: Para aqueles cristãos que não são católicos mas estão interessados em adotar o Plano de Vida CLC, seria esperado que participem do serviço de adoração pública dominical de sua comunidade de fé primária.)
Liturgia das Horas – A celebração da Liturgia das Horas (Horas Divinas) tem sido parte da tradição litúrgica monástica. As reformas do Vaticano II encorajaram a restauração da Liturgia das Horas para todos os fiéis como oração pública de toda a Igreja. Não é necessário que as horas sejam oradas em comum. No entanto, deve ser compreendido que quando as Horas são oradas, é da postura de que toda a Igreja está orando. A recomendação mínima é que a Oração da Manhã (Laudes) e a Oração da Tarde (Vésperas) sejam oradas. A forma monástica/clerical do Ofício não é apropriada para todos. Uma versão mais simples, consistindo de alguns salmos, uma leitura das Escrituras e uma oração de petição ou ação de graças é suficiente.
Lectio Divina – Lectio Divina é a leitura orante e reflexiva das Escrituras ou qualquer escrito inspirado com vista a deixar Deus falar conosco na e através da Palavra (leitura divina). Na lectio divina, Deus fala para e se dirige a cada pessoa individualmente. Requer uma disciplina que nos permite entrar em nosso próprio coração, aquele lugar onde podemos verdadeiramente ouvir e acolher a Palavra de Deus. Lectio é um esforço para nos colocarmos na presença de Deus. Devemos libertar nossas mentes e corações para este encontro para que Deus possa se aproximar de nós e possamos ouvir sua palavra.
Oração Contemplativa – Pelo menos meia hora por dia deve ser gasta em oração silenciosa e meditação. Sugere-se que este tempo seja dividido entre manhã e noite. Este é o tempo para fazer um esforço consciencioso de aquietar e centrar-se em oração para celebrar a presença de Deus interior.
ESTUDO
É recomendado que uma pessoa gaste tempo cada semana lendo e estudando as Sagradas Escrituras e engajando-se em leitura espiritual. Esta atividade é uma parte integral do desenvolvimento espiritual de alguém. A leitura das Escrituras e de literatura espiritual apoiam a experiência de oração de alguém.
Leitura das Escrituras – Há vários comentários bíblicos e guias de estudo disponíveis para uso no estudo das Escrituras. Atenção particular deve ser dada aos Evangelhos.
Leitura Espiritual – Há numerosos escritores espirituais, tanto clássicos quanto contemporâneos, cujos tópicos incluem métodos de oração, espiritualidade, elementos de crescimento espiritual, a experiência contemplativa, etc., que são fontes para leitura espiritual. Os escritos dos pais e mães cistercienses devem especialmente ser considerados.
Fontes Suplementares – Deve-se também considerar recursos como mídia, workshops e palestras que tratam de tópicos espirituais relevantes.
TRABALHO
O trabalho manual sempre foi uma parte valorizada da vida monástica cisterciense. Os primeiros escritores cistercienses desenvolveram uma teologia do trabalho pela qual consideravam as pessoas humanas como co-criadoras quando engajadas em atividade de trabalho autêntico. Embora o trabalho manual não seja sempre possível para todos, deve ser a atitude de alguém engajar-se voluntariamente em trabalho manual produtivo quando a oportunidade está disponível. O trabalho deve ser abordado com um senso de dedicação, louvor e ação de graças. Deve-se realizar seus deveres de trabalho da melhor forma possível.
MODIFICAÇÃO DE ESTILO DE VIDA (CONVERSÃO DE COSTUMES)
Aqueles que sentem que receberam o dom do carisma cisterciense e foram chamados a viver um estilo de vida contemplativo de acordo com as sugestões do Plano de Vida não estão tentando escapar das realidades da vida secular. Enquanto reconhecem as responsabilidades do casamento, família e emprego, estão abraçando esses compromissos de uma postura contemplativa, integrando silêncio, solidão, simplicidade, estabilidade e serviço em suas vidas.
De seu eu interior, uma pessoa é capaz de se conectar com outros e tornar-se mais aberta e atenta à vulnerabilidade e pobreza dos outros. Desta disposição, o que se pode esperar é que se compartilhe a si mesmo, tanto espiritual quanto materialmente, com outros, em um espírito de construção de comunidade. É a tarefa do contemplativo construir relacionamentos humanos autênticos.
Silêncio – Deve-se fazer um esforço genuíno para passar tempo em silêncio durante o dia. A quantidade de tempo variará dada a disponibilidade de alguém. O silêncio permitirá que se seja mais centrado e descubra suas profundezas interiores.
Solidão – Da mesma forma, deve-se também regularmente passar tempo sozinho que permita reflexões e meditação mais profundas.
Simplicidade – Um resultado natural do crescimento na vida espiritual é um desejo de viver mais simplesmente. Moderação e discrição com respeito a comida, roupas, entretenimento e bens materiais são sugeridas. Simplicidade é uma virtude que é difícil de adquirir em nossa cultura materialista. A virtude da simplicidade é muito proeminente nos primeiros escritos cistercienses.
Estabilidade – Um senso de estabilidade nos mantém fundamentados e comprometidos com o caminho espiritual que escolhemos. Também aprimora nossa disposição para sermos fiéis à nossa vocação na vida e ao nosso amor por Deus em todas as coisas.
Serviço – Viver a vida cristã em sua plenitude implica em ser desafiado a servir outros. É assim que valores evangélicos de amor cristão e justiça são demonstrados. Uma pessoa que cresce na vida contemplativa é sensível às necessidades dos outros e é movida a servir. Portanto, espera-se um engajamento em ministério e/ou serviço comunitário.
CONCLUSÃO
As seguintes sugestões suplementam o Plano de Vida para Cistercienses Leigos:
Retiro Anual – É recomendado que se passe alguns dias anualmente em um retiro espiritual. Um dia ocasional de reflexão ou oração também é sugerido. Durante esses tempos é importante avaliar o crescimento espiritual de alguém.
Direção Espiritual/Mentoria – Um aspecto vital da espiritualidade cisterciense é formar um relacionamento confiável com um mentor ou guia espiritual. Deve-se estar aberto a receber orientação ou direção espiritual.
Companheirismo Espiritual – Também é recomendado que se busque outros (amigos espirituais) com quem caminhar na jornada espiritual. Esses relacionamentos oferecem oportunidades para compartilhamento mútuo de experiências pessoais, insights espirituais e desafios para o crescimento espiritual.
Publicado em: https://laycisterciansofgethsemani.org/plan-of-life
Nota do Tradutor: Abaixo, publicamos a introdução original, que aqui foi deslocada para o final a fim de engajar o leitor no conteúdo principal do texto.
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