Tipos de Meditação no Cristianismo
- Erika Nakano
- 23 de jan. de 2023
- 3 min de leitura
Todas as principais tradições religiosas e espirituais desenvolveram princípios e técnicas específicas para o desenvolvimento de comportamentos contemplativos. O objetivo das tradições sempre foi promover uma experiência mais completa de sabedoria, totalidade e iluminação.
Especificamente entre os cristãos, encontramos como principais tipos de meditação: a Lectio Divina, a Oração Hesicasta ou Oração do Coração, a Oração Centrante ou centralizadora e a Meditação Cristã. Existem também os Exercícios Espirituais desenvolvidos por Inácio de Loyola, considerados por alguns como uma prática meditativa do cristianismo.
Em uma recente pesquisa empírica[1] que realizamos com 394 cristãos protestantes confessionais no Brasil, 64% dos entrevistados relataram praticar meditação regularmente. Foi interessante identificar que de forma geral, no cristianismo, a meditação é uma prática muito interligada à oração. A maioria de nossos entrevistados chamam suas práticas de “oração contemplativa” e “oração meditativa”. Muitos nem sequer souberam denominar suas práticas. Há, realmente, uma diversidade de práticas meditativas no Cristianismo, e ficou evidente que os entrevistados não praticam o mesmo tipo de meditação.

Você viu recentemente, aqui no Contemplatio, uma árvore das práticas contemplativas (disponível aqui), do Center for Contemplative Mind. Mas, encontramos também “árvores” no campo da psicologia, como a que relaciona os conceitos de Stress, Coping, Burnout e Resiliência[2]. Há também um manual sobre meditação de Oxford, recém publicado, que traz a imagem de uma árvore contemplativa com ramos de tradições ocidentais, tradições orientais e, no seu topo, as técnicas terapêuticas mais recentes.[3] Aqui, gostaríamos de apresentar esta ilustração, destacando as práticas do ramo a que naturalmente pertencemos.
Dentro do ramo da meditação ligada ao cristianismo, podemos observar vários galhos: o da lectio divina, o da oração do coração (originada da tradição cristã ortodoxa), o da oração centrante (alicerçada no livro clássico cristão "A Nuvem do Não-Saber") e o da meditação cristã (proposta pelo monge beneditino John Main).

Apesar desses ramos e galhos se conectarem de muitas maneiras, devemos ter em mente que existe algumas especificidades de cada prática quanto:
ao objetivo principal da prática – terapêutico ou espiritual;
a direção da atenção – concentrativa ou atentividade;
ao tipo de foco – palavra, respiração, som, objeto ou sensação;
a postura utilizada – sentado ou em movimento.
Dentro do cristianismo, em todos esses tipos de meditação, o objetivo principal é espiritual (o terapêutico passa a ser secundário). O que pode variar é a direção da atenção durante a prática, o tipo de foco assim como a postura utilizada. Por exemplo, na lectio divina, o foco principal é o texto bíblico, “eu procuro ouvir o que estou lendo”. Já na oração do coração o foco esta na repetição da oração “Senhor Jesus Cristo, tem misericórdia de mim”, enquanto que na meditação cristã proposta por John Main a repetição sugerida é da palavra Maranata e na oração Centrante a repetição de uma palavra que pode variar.
De toda forma trata-se apenas de tipos de meditação, que podem ser interligados (por exemplo através da lectio divina uma palavra pode nos acompanhar durante o restante do dia) e que independente da forma, estão acessíveis para cada um de nós.
Se hoje você estivesse diante dessas duas perguntas abaixo, quais seriam as suas respostas?
1 - Você pratica meditação?
2 - Como você denomina a sua prática meditativa?
Convidamos você para compartilhar conosco aqui nos comentários.
Erika Nakano é Psicóloga Mestre e Doutora em Psicologia Instituto de Psicologia USP. Pós graduação em Espiritualidade Cristã pela FATEV e formação em Missiologia pelo CTM-SUL IPIB. Trabalha com temas relacionados ao Stress, Burnout, Coping e Resiliência e sua interface com Religiosidade/Espiritualidade e Saúde mental, e atualmente se dedica ao estudo da Meditação e Práticas contemplativas no Cristianismo.
[1]Nakano, E.F.M (2022). Meditação e Protestantes, Religiosidade intrínseca/extrínseca e Locus de controle. Tese (Doutorado) Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. Email: erikafmnakano@hotmail.com. [2] Vaconcellos, E. G. (2017). Stress, coping, burnout, resiliência: troncos da mesma raiz. A Psicologia social e a questão do hífen. São Paulo: Blucher. [3] Farias, et al (2021).The Oxford Handbook of Meditation. Oxford: Oxford University Press.
Fico admirada em perceber que as pessoas que praticam a Meditação Cristã conseguem escrever textos curtos com tanta profundidade! Gratidão!
Um texto importante e oportuno. Parabéns à autora.