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Comunhão


Deus é a Eterna Família: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ao nos convertermos, tornamo-nos participantes do Espírito Santo que, através do Filho, nos conduz ao Pai. Isso significa que fazemos parte dessa família, que nos acolhe em sua comunhão.


A vida cristã é relacional. Sendo assim, devoção e comunhão são partes da mesma unidade, pois, quando amamos a Deus, também amamos o próximo. Ninguém pode dizer que se relaciona com Deus se não tem amigos, anda errante e solitário sem que ninguém o compreenda, sem compreender seus semelhantes. Amizade é o grande tema das Escrituras.


Ícone da Trindade de Rublev
Ícone da Trindade de Rublev

Podemos dizer que o Deus da Bíblia é a eterna amizade entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, desejoso de nos tornar seus amigos para que vivamos como amigos entre nós. Esse é o grande manda- mento, sob o qual se sujeita toda a revelação de Deus: amar a Deus, a si e a seu semelhante. Em outras palavras, devemos estabelecer relacionamentos de amizade e intimidade com Deus, conosco e com o próximo.


Aprender a amar o outro, o diferente, é um processo contínuo. Ao pedir que amemos nossos inimigos e oremos por aqueles que nos perseguem, Jesus Cristo introduz outra maneira de lidar com o conflito num mundo marcado por antagonismos, rupturas e lutas fratricidas. Quando respondemos à agressão com agressão, entramos numa espiral sem fim na qual o mal é retroalimentado e se torna cada vez maior. Quando, ao contrário, respondemos ao mal com o bem, desarticulamos a estrutura do mal, e o bem prevalece.


O amor não é um sentimento vago e subjetivo, mas se concretiza nas amizades. A comunhão é, portanto, a amizade humana con- sagrada pela presença do Senhor. Assim, nosso Senhor Jesus Cristo nos dá o exemplo, enfatizando sua amizade com o grupo dos doze apóstolos. Ele nos diz: "Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido" (Jo 15:15).


Podemos dizer que o verdadeiro discípulo é amigo de muitos.

Trazemos a imago Dei, isto é, fomos criados à imagem e à semelhança de Deus, portanto somos seres relacionais e encontra- mos nossa verdadeira vocação humana na comunhão. Com a Trindade, aprendemos a conviver com a tensão criativa entre "eu" e "tu", compreendemos o respeito, a alteridade, a cooperação e a solidariedade. Isso só é possível quando escolhemos amar e abrimos mão do poder e do controle na relação.


Jesus disse que pelo amor que temos uns pelos outros seríamos conhecidos como seus discípulos (Jo 13:35). Assim, podemos dizer que o verdadeiro discípulo é amigo de muitos. Seus vínculos de afeto e companheirismo se estendem pela família de sangue, pela família de fé e pela família humana.


A aceitação e o amor criam o contexto para a intimidade, estar com alguém, podendo ser eu, sem reservas, sem segredos, para sem máscaras, sem precisar representar para ser aceito. Um amor sem exigências, sem cobranças, sem críticas. Um amor que é só bondade e aceitação. Deus nos propõe sua intimidade a partir de seu amor incondicional. Com ele aprendemos a nos relacionar, a construir vínculos de intimidade que devolvem a liberdade de sermos quem realmente somos, sem precisarmos de jogos manipuladores para sermos aceitos.


A unidade proposta pelas Escrituras encerra um mistério. A Trindade são três, mas é um. Marido e mulher se tornam um, mas continuam dois. Somos um só corpo, mas muitos membros.

Deus deseja que tenhamos intimidade com ele e uns com os outros. Essa é a razão pela qual fomos criados. Maridos e mulheres, pais e filhos, irmãos na igreja que se conheçam, respeitem-se e sintam-se amados. O verdadeiro amor lança fora o medo da rejeição: podemos ser quem somos, nos mostrar vulneráveis diante do outro que nos quer bem, expondo nossas franquezas e virtudes sem o risco de sermos usados. Esse contexto de amor e liberdade nos per- mite crescer, amadurecer e florescer para a vida.


Na igreja encontramos o outro diferente, e onde há diferenças, há distância e conflitos. As muitas diferenças de faixa etária, de contextos familiares e sociais, de visões de mundo e de formas de vivenciar a fé fazem da igreja um agrupamento plural. Não sabemos muito bem como lidar com as tensões e, para evitá-las, elegemos líderes que agem com pulso de ferro ou elaboramos uma regra respeitada por de fé e conduta minuciosa que deve ser aceita e todos. Às vezes, entramos em conflito, e as atitudes rígidas e ressentidas conduzem à divisão. Aprender a respeitar e validar as diferenças, encontrar um meio de resolver os conflitos com tolerância e perdão é o verdadeiro caminho cristão.


A unidade proposta pelas Escrituras encerra um mistério. A Trindade são três, mas é um. Marido e mulher se tornam um, mas continuam dois. Somos um só corpo, mas muitos membros. Isso significa dizer que nos tornamos um não por é o verdadeiro caminho cristão, simbiose nem por fusão, perdendo nossa identidade. Pelo contrário: o teste sublime desse mistério da unidade é que, quanto mais sou um com Deus, com meu cônjuge e com meu irmão em Cristo, mais posso ser eu e mais o outro é ele, sem confusão de identidades.



 
 
 

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