Um Psiquiatra Lê Romanos 7
- Timothy R. Jennings
- 20 de set. de 2022
- 4 min de leitura

Até que Cristo volte, a cura de nossa mente, a transformação de nosso caráter, a reconexão de nosso cérebro, é uma batalha em curso à medida que os circuitos neurais antigos se degradam e os caminhos saudáveis são formados. É isso que Paulo descreve em Romanos 7. Eu parafraseei o que acredito que Paulo está dizendo, inserindo alguns insights sobre a fisiologia do cérebro:
O que diremos então? A lei escrita é má e egoísta porque aumenta a quantidade de maldade e egoísmo que vemos? Claro que não! Porque eu não saberia o que é o mal e o egoísmo se não fosse pela eficácia diagnóstica da lei escrita. Eu não teria percebido que cobiçar era mau e egoísta se o mandamento não dissesse: "Não cobice". Mas o egoísmo, aproveitando-se do fato de que a lei escrita é apenas um instrumento de diagnóstico e não um remédio, ampliou todos os desejos de cobiça dentro de mim. Porque sem a capacidade diagnóstica da lei escrita, o pecado é irreconhecível.
Eu cheguei a pensar que estava saudável e livre da infecção de desconfiança, medo e egoísmo. Mas então, o mandamento me examinou, expôs o quão completamente infectado eu estava e me diagnosticou em estado terminal. Descobri que havia tentado usar o mandamento – dado apenas para diagnosticar minha condição – como se ele pudesse me curar, e assim minha condição só piorou. Meu egoísmo, aproveitando-se do fato de que o mandamento só poderia diagnosticar e não curar, me enganou e me fez pensar que trabalhando para obedecer os mandamentos eu poderia ser curado. Em vez disso, meu estado terminal só piorou.
Embora confie em Deus, velhos hábitos, respostas condicionadas, ideias preconcebidas e outros remanescentes ainda não foram totalmente removidos.
Então, entenda isso: a lei escrita oferece um diagnóstico perfeito; e o mandamento é o padrão do que é certo e bom, descrito por Deus para revelar o que é mau e destrutivo. Será que a lei, que fez bem ao diagnosticar o que havia de errado comigo, tornou-se a fonte da minha condição terminal? Claro que não! Só expôs o que já estava em mim para que eu pudesse reconhecer o quão totalmente deteriorado, contaminado e moribundo eu estava; para que, através das lentes do mandamento, eu pudesse ficar totalmente enojado com o mal e o egoísmo em mim, passando a desejar a cura.
Sabemos que a lei escrita é consistente, confiável e razoável; mas eu sou inconsistente, inconfiável e irracional, porque a infecção de desconfiança, medo e egoísmo distorceu minha mente e comprometeu meu pensamento. Estou frustrado com o que faço! Uma vez que minha confiança em Deus foi restaurada, quero fazer o que está em harmonia com ele e seus métodos de amor. Mas percebo que, embora confie em Deus, velhos hábitos, respostas condicionadas, ideias preconcebidas e outros remanescentes da devastação causada pela desconfiança e egoísmo em mim ainda não foram totalmente removidos. Se eu encontro um velho hábito fazendo-me comportar de maneiras que agora acho detestável, confirmo que a lei escrita é uma ferramenta muito útil para revelar danos residuais que precisam de cura.
Porque os velhos hábitos e respostas condicionadas de circuitos neurais não saudáveis que ativam meu sistema límbico não são o bem que eu quero fazer.
O que está acontecendo é o seguinte: No meu córtex pré-frontal eu passei a confiar em Deus e desejo fazer sua vontade. Mas, velhos hábitos e respostas condicionadas, que surgem de circuitos neurais não saudáveis que ativam meu sistema límbico, ocorrem em certas situações quase como um reflexo. Esses circuitos neurais não saudáveis ainda não foram totalmente eliminados e, assim, me fazem fazer coisas que eu não quero fazer.
Sei que minha mente estava completamente infectada por desconfiança, medo e egoísmo, que perverteram todos os meus desejos e faculdades. Desse modo, mesmo quando a desconfiança deu lugar a uma confiança restaurada, os danos causados por anos de comportamento desconfiado e egoísta ainda não foram totalmente curados. Então, percebo que, às vezes, eu tenho o desejo de fazer o que é certo, mas meu córtex pré-frontal não está totalmente curado, de tal forma que me vejo incapaz de realizar esse desejo. Porque os velhos hábitos e respostas condicionadas de circuitos neurais não saudáveis que ativam meu sistema límbico não são o bem que eu quero fazer. Não! Eles são remanescentes da minha mente egoísta e não convertida. Então, se estou fazendo o que eu não desejo mais fazer, não sou eu, mas vestígios de velhos hábitos e respostas condicionadas que ainda não foram removidas, e que, através da graça de Deus, em breve serão removidas.
Quem vai me livrar e curar de um cérebro e um corpo tão adoecidos e deformados?
Assim, encontro a seguinte realidade operando: quando eu quero fazer o bem, velhos hábitos egoístas e sentimentos residuais de medo atuam em mim. Pois, no meu córtex pré-frontal eu me alegro com os métodos e princípios de Deus. Mas, reconheço que permaneço danificado por anos de uma infecção de desconfiança e de prática dos métodos de Satanás. De modo que, embora a infecção da desconfiança tenha sido removida, os velhos hábitos de medo e autopromoção me tentam no meu interior. Que homem estragado e corrupto eu sou! Quem vai me livrar e curar de um cérebro e um corpo tão adoecidos e deformados? Louvado seja Deus — pois ele proveu o caminho de cura em Jesus Cristo, nosso Senhor! Então, percebo que no meu córtex pré-frontal estou agora renovado em minha confiança em Deus e no amor por seus métodos; mas, todo o meu cérebro e corpo permanecem danificados por anos de comportamento autoindulgente.
Finalmente, pude ver claramente: as mentiras em que acreditamos quebram o círculo de amor e confiança. Sem amor e confiança, o medo e o egoísmo consomem nossa mente. Nosso cérebro está danificado e cheio de todo tipo de ideias distorcidas e deformadas sobre Deus. Então, buscamos alívio freneticamente, mas apenas nos afundamos mais em uma confusão labiríntica. Apenas quando as boas novas sobre Deus removem as visões distorcidas e deformadas que temos dele que nossa mente pode ser curada.
Timothy R. Jennings
Do livro The God Shaped Brain, IVP Books, 2017, p.73-75.
Trad.: Guilherme Ribeiro
Comments